A morte, hoje, 26/2/2014, do guitarrista flamenco Paco de Lucia, inspirou-me «sortilégios da guitarra».
André Segóvia foi, sem dúvida, o grande impulsionador da guitarra clássica na 1.ª metade do século 20, ao levá-la para níveis de interesse comparáveis aos do piano e violino. Até ali esquecida, diria mesmo desprezada, em particular pelas orquestras, que a deixavam de fora.
Era um «exclusivo» clássico, embora interpretasse, também, moderno como, por exemplo, os 5 prelúdios do brasileiro Villa Lobos, compositor que lhe dedicou 12 estudos (ver foto 4), mas que nunca os tocou, e quando digo nunca os tocou, refiro-me à totalidade (12) ...nem poderia ser de outra forma, tanto mais que num, pelo menos, dos seus concertos, vi, com os meus próprios olhos, tocar os estudos 1 e 8 aliás quando passava por Paris, ia vê-lo à «Salle Pleyel ou Gaveau».
A 1ª vez que assisti a um dos seus concertos, foi na Segunda-feira, 28 de Novembro de 1966 (ver foto 3, onde pode ver-se, também, a assinatura do Mestre). Note-se que nesse concerto estava na companhia de um grande amigo francês, Maxime Belliard, compositor, pianista e crítico de arte que, ironia do destino,uns anos mais tarde, fui substituir (na crítica) num concerto de Segóvia ...quem diria.
Devo dizer que nunca fui fã de Segóvia (nem de seus alunos), adormecia durante os concertos. Segóvia tinha a particularidade, de utilizar um dedilhado só para ele, ou seja, não ensinava o universal, como mandam as regras, comum a todos, exceto, naturalmente, adaptações necessárias, em função das dificuldades de cada um. Eram muitas as queixas em festivais de quitarra, que ele dirigia, por não explicar o porquê, ou seja, ensinava um dedilhado mas utilizava outro enfim,conforme lhe dava na gana.
Dizia/escrevia, que não era preciso acrescentar nada aos referidos estudos, pelo fato de Villa Lobos conhecer suficientemente a guitarra ...talvez fosse esse um dos motivos, de nunca os ter tocado/gravado todos.
Uma coisa é certa, não fosse a preciosa ajuda de meu ex. prof. de guitarra, Alberto Ponce (um dos melhores do mundo), eu nunca chegaria a tocar os 12 estudos, mesmo assim, como descreve Mestre Ponce , no canto inferior direito da fotocópia (foto 2), impossível, perante tanta dificuldade. Discordava frontalmente da forma como Segóvia ironizava sobre a música contemporânea (vanguarda), que a sua antiquada técnica o impedia de tocar, exemplo, a música do (amigo) compositor cubano, Leo Brower (uma técnica que Segóvia snão dominava. Outros professores, com quem trabalhei, tinham a honestidade de confessar que não sabiam.
Poucas ou muitas, o certo é que as minhas capacidades técnicas permitiram que tocasse os difíceis 12 estudos seguidos ...só conheço um que o tivesse feito em concerto e/ou em disco, o grande guitarrista Juleam Bream, de quem sou fã.
Segóvia tocava numa guitarra tradicional Ramirez, a mesma que a 1.ª que eu tive...já a que pode ver-se na foto, é mais recente, é a Ramirez «Elite n.º 104» ...o que não quer dizer que, tanto Segóvia como Alberto Ponce (este preferia a «Fleta»), não tivessem experimentado outras marcas, mas, em todos os concertos que assisti, Segóvia tocou sempre na guitarra (tradicional) Ramirez.
Fui buscar, de Paris, de avião, a minha 1ª Ramirez, à «Conceptión Jerónima n.º 2, Madrid, Espanha e, cerca de 20 anos mais tarde, do Lugar de Arques, Vila de Punhe, de carro, fui buscar a minha 2ª guitarra Ramirez (Elite), exatamente ao mesmo endereço, mas paguei 4 vezes mais caro que a 1ª.
Conversava de tudo, e sem restrições, com meu amigo e professor Alberto Ponce.
Já estava com saudades de quando substituia meu amigo Maxime Belliard, na crítica de arte.
Sou, de fato, um privilegiado, que se «esfarrapava» a trabalhar a guitarra clássica ...com o mesmo entusiasmo que divulgo, atualmente, as maravilhas do Monte de Roques (Santinho), berço da minha infãncia.
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